A verdadeira busca espiritual é a busca pela consciência. Aprender é descobrir, perceber, significar, agir. Aprender é coordenar tudo que somos, de maneira saudável, gostosa, cheia de compreensão. É nascer contínuamente.
A vida não vem pronta.Somos todos aprendizes na vida. Todos nós estamos aqui aprendendo a ter domínio sobre nosso próprio poder. Aprendendo as leis que regem a vida, ampliando nossa consciência, aprendendo a viver com a realidade,abandonando as ilusões, as fantasias e os sonhos.
É através do conhecimento de si mesmo que as pessoas adquirem uma nova compreensão da vida e dão a ela um novo sentido. Amplificando a consciência, ampliamos nossos horizontes.
Muitas vezes temos sentimentos dúbios em nós. Buscamos o equilíbrio entre as forças contraditórias que travam uma luta em nosso interior. Ás vezes, as pessoas me dizem: "Sabe, minha alma me diz uma coisa e minha cabeça diz outra". E eu, fico pensando: Como será que ela sabe que é a alma que está dizendo, se ela não presta atenção nem no que sente? Parece-me muito mais que escutou o galo cantar, mas não sabe muito bem onde.
A ignorância daquilo que não sabemos pesa. Muitas vezes como culpa, muitas vezes como pretensão, muitas vezes com a nítida sensação de não haver saída. Uma sensação de impotência toma conta. "Eu tinha que saber e não sei, mas como vou dizer para mim mesmo e para os outros que eu não sei?" A sensação é de que o custo é alto demais para uma pessoa só.
Sabemos que a consciência progride e se amplia dia após dia. Sabemos que nada está parado, que momento a momento as mudanças estão acontecendo,que um dia, mais à frente entenderemos tudo o que neste momento se passa conosco, mas isso não consola, queremos respostas imediatas, queremos entender tudo, queremos soluções para ontem.
Lemos, estudamos, escutamos fitas de auto-ajuda, palestras, cursos e mais cursos. Temos conhecimento e ainda assim não nos sentimos capazes de tomar atitudes diferentes, achamos que nada está mudando.
Como colocar em prática aquilo que sabemos? Como colocar na realidade uma postura nova se o velho ainda esta instalado em nós?
Conhecimento não é consciência.
Consciência é conhecimento incorporado, é responsabilidade assumida sobre o que sabemos. É preciso viver, experienciar, passar pela situação até atingir o estado possível para a mudança. Até chegar à compreensão de fato, até sentir o que a vida esta pedindo. Não é só o pensamento,é a sensação no corpo,é o encaixe, é o mergulho!
Assim como não aprendemos a nadar lendo livros e escutando palestras,mas mergulhando na piscina e seguindo passo a passo as instruções recebidas, treinando, nos disciplinando, orientando nossos movimentos, ajustando nossa respiração, coordenando nossos braços e pernas. Assim é com a vida. Aprendemos a viver, vivendo.
Não há como saltar etapas, a natureza não dá saltos. Podemos entender muitas coisas, mas a compreensão vem da vivência, do mergulho na experiência, experiência de contato com a própria verdade, contato com o sentir real que esta se processando em nós. Pensamentos, sensações, emoções, sentimentos, percepções, intuições tudo faz parte da consciência....
Saltamos de um lado a outro em diferentes matizes de luz e sombra. Saltamos entre os nossos ideais e a realidade à nossa volta. Saltamos em múltiplos estados de consciência. Nos movemos entre o que pensamos e o que sentimos.Entre a imaginação e o fato em si....
As sensações invadem e nosso ser e entram em contradição com aquelas velhas formas que sempre nos foram úteis. O novo chega e ainda estamos a usar antigas formas que não fazem mais sentido, mas que relutamos em abandonar porque sempre nos foram boas, embora agora já não estejam funcionando mais. A insatisfação nos invade e não entendemos que ela é a linguagem do invisível, dizendo que algo há de ser modificado, transformado, para não ser estagnado. É necessário desenvolver a nossa habilidade em lidar com a incerteza (confiar) mas isso ainda não está muito claro para nós.
Tentamos dar forma ao que ainda não tem forma, mas o conteúdo do que chega transborda e temos a sensação que não somos capazes de dar conta do recado. Temos a sensação que as situações estão fora de controle, que as mudanças estão além da nossa capacidade. Não conseguimos fazer uma síntese, não conseguimos ordenar racionalmente, pois não é algo que se restrinja ao intelecto....
Tentamos comparações e metáforas para explicar o que estamos sentindo, mas elas parecem vazias, não nos dão o alívio que esperamos....
A vida parece uma coisa inventada, uma música que não sabemos cantar, um quadro que não conseguimos interpretar. Tudo é descontínuo, assimétrico, improvisado e imprevisto.....
Chegamos a ter algum vislumbre de respostas, mas sem a qualidade que precisamos para entender com profundidade.
Perdemos com muita facilidade o poder, nos deixamos impressionar de uma maneira infantil, materializamos situações porque nosso ser está impregnado por imagens que vieram de fora e que nós permitimos ficar, uma imaturidade nítida que não resiste ao fluir das emoções....
Algo em nós emerge, talvez a alma, e nos fala confundindo nossas idéias racionais. O orgulho, a vaidade, nossos desejos de certo, nosso perfeccionismo, se misturam a uma vontade de liberdade, a uma crença em algo bom e positivo e que muitas vezes também não sabemos se é espiritualidade ou vontade de poder.
O que fazer? Como lidar com esta estranha e contraditória sensação? Quantas verdades buscamos? Quanta verdade nossa alma pode nos trazer? Quanta verdade nós podemos agüentar sem desmoronar? Quanta coragem e ousadia nós temos para enfrentar o que não conhecemos ?Temos a impressão que precisaríamos estar do lado de fora da vida para entender o que nos acontece. Olhar como se fosse algo distante de nós...
Eu chamaria isso de crise de crescimento. Passamos por ela milhões e milhões de vezes. Precisamos do contraste para poder ver com nitidez, temos ciclos, faz parte da tomada de consciência.
Neste momento o que precisamos é de calma, de paciência para conosco mesmo, é nos dar um tempo para a compreensão do processo. Entender a crise como uma oportunidade de crescimento, oportunidade de nos ver e ver a vida de modo diferente.
É o momento de olharmos para nós sem crítica, observarmos como estamos agindo sem nos julgarmos certos ou errados, apenas atentando para nós e para nossos sentimentos, emoções e pensamentos....Quanto mais mágoas, culpas, rancores, menos vontade.
Precisamos conhecer para podermos nos "desidentificar", isto é, para podermos entender que temos as situações , mas não somos elas ( observe como somos submissos a tudo aquilo com o que nos identificamos). Depois é desvalorizar, tirar a importância daquilo em nossa vida. Nada é mais importante do que nós. Está ai, eu resolvo, mas não deixo que me leve! Assim vamos nos livrando das impressões , vamos abandonando as ilusões e adquirindo habilidade de lidar com a realidade.
O importante é nunca nos abandonarmos. É ficarmos sempre de nosso lado, certos ou errados, estamos tentando o melhor, estamos conosco. Quando estamos de bem conosco, mesmo! facilitamos o nosso crescimento e nossa integridade. Ficar no bem interior, aceitar a nossa verdade, nos dá a chance de atuarmos na realidade...
Somos capazes de mudanças e recomeços. Somos capazes de criatividade e soluções, mas todas elas moram num universo de bem. Não há como eu ficar bem, pensando mal de mim.
Como vamos modificar o fora sem olharmos o dentro? Como eu quero a vida diferente se eu não faço diferença nem para mim? O que me adianta saber o nome do que sinto, se me recuso a sentir o que sinto e tomar consciência deste sentir? Eu quero ter um desempenho de pessoa consciente ou quero ser consciente? Eu quero me curar ou quero ser feliz?
Dificuldades da vida são negociadas dia a dia. Sufoco é quando não me dou espaço para crescer. Não me adianta dizer " Isso eu já sei!" e continuar me sentindo mal. Essas imagens de "sabedor" estão mais fortes que a realidade, portanto estou na ilusão.
Melhor mesmo é eu ceder. Quando a gente cede, Deus concede! É na humildade de minha própria condição de aprendiz que mora a minha possibilidade de ser feliz!